domingo, 21 de dezembro de 2008


It's the hardest thing in the world to accept a "little" success and leave it that way.
Marlon Brando

sábado, 13 de dezembro de 2008

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

(...) com lâminas de velhas luas

com lâminas de velhas luas
cortas sempre a pele para dar de beber
às últimas sementes
e acreditas no súbito florir das acácias

a sangue bordas cicatrizes de ouro
sobre velhos vestidos de linho – mas o tempo há-de
calcinar a tua fulgurante adolescência

cálida estás ainda morta sob os cascalhos
de antigos palácios onde viveste
quieta dormes no leito dos lagos
debruçada sobre a translucidez dos espelhos

- porque recolhes o coração à antiguidade tumultuosa
destas sombras?
As crianças de éter perguntam-te o mistério purpúreo
dos sepulcros
são ingénuos pássaros de asa rendilhada

respondes que na penumbra
as palavras se fazem da fosforescência das cinzas
brotam dos pulsos como sôfregas aves
perpassam as memórias inquietas

dizes estou à espera de um cavaleiro
no dia em que regressar do incêndio dos túmulos
um último sol há-de banhar o
desespero


Arderam as lápides, Nunes Noite

(reflexo de conversas nocturnas sobre infâncias já longínquas e velhas ruínas de palácios)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008


na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viuva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas