quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"A Metáfora da Noite"

"A noite dorme sobre um túmulo
Lisa rugosa cega.
Achatou os pássaros. Petrificou as nuvens.
A seiva das árvores é tule negro.

*

A noite vem e sempre esteve.
Unha de Deus a lua.
A água é negra de súbito
Noite cabeleira funesta.

*

A noite vomita a metáfora da noite.
Desce poeirenta das estantes.
Uma lâmpada negra.
Os dedos da noite o vento espalha.
Cetim negro de um corvo. A metáfora?"

em José Emílio-Nelson, A Alegria do Mal
(Feliz Natal ao D. e à Karenina)
oh oh oh oh

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"A Morta"


Isto aconteceu.
A Morta ouviu dar a última badalada da meia-noite, ergueu os braços, e levantou a tampa do caixão. Desceu devagarinho, circunvagou em redor os olhos de pupilas sem luz; os outros mortos, bem mortos, dormiam pesadamente. Puxou para si a porta do jazigo que dava para a noite. O vestido branco manchou o negrume das sombras.

(...)


Florbela Espanca, Máscaras do Destino, "A Morta"
(Um excerto de um conto líricamente cemiterial, e sem dúvida um dos melhores que já escreveu a pálida Florbela Espanca.)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Poesia de ventos e de ciprestes


"De tarde viera alguém com flores - lírios,
jacintos, narcisos, despedidas - e a porta ficara
aberta desde então. Agora as traças ciciavam

lá fora numa alegria turva em torno de uma
lâmpada; e, sobre o banco do alpêndre, jazia um
livro aberto na mesma página fazia quase um dia.

Batia-me nos pulsos um vida vencida; e, mesmo
que a terra apenas aguardasse o fulgor da manhã
para chamar pelo teu corpo, tive a certeza de que
era sobre o meu que a noite eternamente se abatia."



Maria do Rosário Pedreira, O Canto do Vento nos Ciprestes

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

...

é para ti que esta noite escrevo o fogo e o exílio (...)

é para ti que esta noite escrevo o fogo e o exílio
abrindo um círculo onde a memória cresce
é para ti: porque
sei que a tua loucura engoliu o alvor do meu corpo
e conheci a noite e a tortura melancólica dos cegos
que o teu incêndio queimou as minhas mãos
os meus cabelos
as tuas lâminas deceparam-me os versos
e há ossos no lugar de frutos
- mas perdoo-te e perdoo-me.

o canto solar das manhãs que tecia em torno da tua
nudez silenciou-se no interior do teu olhar vasado,
da violência abrupta dos dias
da aguda omnipresença da morte nestes quartos
(naufragados no odor de lírios, comprimidos, salina,
copos quebrados, cigarros)

mas os braços cansaram-se de lutar contra as
marés e os navios e as sereias e os corvos
e deixei-me na borda insidiosa do meu medo: de te
perder para os poços, para os rios caudelosos,
para os abismos, (sobretudo para os poços)
- receava que esquecesses o sol e os pomares
e o iridiscente lume dos poentes que juntos conhecemos
e pusesses o o corpo a embalar num sarcófago de flores

eis que nesta noite de novembro não faço mais que
beber o leite, o sangue derramado da nossa tragédia
e o mundo engole-nos outra vez tão lentamente, amor,
- pergunto-me se resguardas nos interstícios do peito
esse diário de cinzas (que é a história e o tempo que decorre
desde o dia em que os olhos se bateram frente a frente
contra a eternidade até ao dia em que todos os muros
se puseram a ser duros e intransponíveis entre nós)

pergunto-me se levas ainda o mesmo o coração a tremer
com os pássaros, inóspito lugar onde me acolheste,
órgão nunca seco ou lapidado que bebi com os dentes
e toda a ternura da sede; pergunto-me pelo coração
que ofereces agora gentilmente aos precipícios
- os poços que não pudeste evitar e que eu não soube
fechar antes da noite e do vento

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Meu caro António Mora


"Meu caro António Mora, disse, Prosérpina quer-me no seu reino, é tempo de partir, é tempo de deixar este teatro de imagens a que chamamos a nossa vida, se soubesse as coisas que vi com os óculos da alma, vi os contrafortes de Oríon, lá em cima no espaço infinito, caminhei com estes pés terrenos sobre o Cruzeiro do Sul, atravessei noites infinitas como um cometa sintilante, os espaços interestelares d imaginação, a volúpia e o medo, e fui homem, mulher, velho, rapariguinha, fui a multidão dos grandes boulevards das capitais do Ocidente, fui o plácido Buda do Oriente ao qual invejamos a calma e a sabedoria, fui eu próprio e os outros, todos os outros que podia ser, conheci honras e desonras, entusiasmos e desânimos, atravessei rios e inacessíveis montanhas, guardei plácidos rebanhos e recebi na cabeça o sol e a chuva, fui fêmea em calor, fui o gato que brinca na rua, fui sol e lua, e tudo porque a vida não basta. Mas agora basta, meu caro António Mora, viver a minha vida foi viver mil vidas, estou cansado, a minha vela gastou-se, faça-me um favor, dê-me os meus óculos."



Os últimos Três Dias de Fernando Pessoa, um delírio, Antonio Tabucchi

terça-feira, 22 de setembro de 2009


Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Pablo Neruda

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O sorriso

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

Eugénio de Andrade

terça-feira, 15 de setembro de 2009

mais um fulgurante poema de Maria do Rosário Pedreira...

"O sono retirou-se do meu corpo e as cigarras
atormentam as minhas noites. Depois de teres
partido, os lençóis são como limos frios
que se agarram à pele. Porém, se me levanto,
não faço mais do que arrastar a solidão pela casa;

talvez procure ainda um gesto teu nos braços
do silêncio, como um pombo cego a debicar
as sombras na única praça deserta da cidade -

o amor nunca aprendeu a ler nas linhas da mão."

O Canto do Vento nos Ciprestes, Maria do Rosário Pedreira

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

...


"Se partires, não me abraces - a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces -

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém - longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.

Se me abraçares, não partas. "


Maria do Rosário Pedreira, O Canto do Vento nos Ciprestes

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

requiem por um tempo que não vivi, 1986

http://

Naquele tempo eu era um sulco profundo
por escrever no teu rosto,
uma sombra ou claridade a amparar os teus passos.
Pelas ruas, pelas cidades, pelas casas quietas
absortas na gestação da morte e da poesia.
Frágil, quando já existias no mundo, eu era ainda
brisa ténue a atravessar os teus dias
uma poalha de memórias nas manhãs de abril,
quando me esperavas nas noites de misterioso sossego
e lembravas o meu olhar ainda por nascer
- horas para escrever o futuro das aves e o amor dos lumes
com a caneta a verter sangue sobre a folha.
E antes de mim, eu era linha de lume na borda dos teus lábios
uma palavra de água a beber da tua pele, dos teus cabelos,
um nome oculto sob a carne tatuado.
Ccatriz invisível no teu corpo ainda imberbe.

sim, esta música é bonita

http://

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

e que bom que é dar e receber.
nunca me senti tão agradecido!

"E subitamente, o amor (...)"

Gustav Klimt, O Beijo



"E subitamente, o amor. Eis que o teu rosto me enternece. Que o teu corpo nu é-me familiar como um espelho e a tua carne, para ser mordida, para ser segura entre os meus dedos longilíneos se me anuncia e entorpece: das omoplatas crescem asas inseguras, voam os cabelos sobre todos os leitos, sobre as mesas, sobre o chão molhado das casas sombrias. Nos lábios, agora, arrebentam rosas: palavras etéreas que desabrocham imberbes e nada dizem: só os olhares falam e o Medo. Só os olhares se humedecem vítreos, orvalhados. Líquidos como líquido é o teu rosto no meu ventre. Líquido como todas as sementes no meu útero.

Eis que as mãos se encontram e acolhem. Ao sol de uma manhã as mãos se apertam ainda despidas, como pássaros que têm sono. Nas ruas, ao anoitecer, numa cidade longínqua, as mãos se entrelaçam sempre trémulas, medrosas no rubor das águas, no sangue fervente da paisagem. E no peito, timidamente, a eternidade."

domingo, 12 de julho de 2009


Porque hoje tem mesmo que ser. Obrigado!

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 11 de julho de 2009


Desmayarse, atreverse, estar furioso,
áspero, tierno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, difunto, vivo,
leal, traidor, cobarde y animoso;


no hallar fuera del bien centro y reposo,

mostrarse alegre, triste, humilde, altivo,

enojado, valiente, fugitivo,

satisfecho, ofendido, receloso;


huir el rostro al claro desengaño,

beber veneno por licor suave,

olvidar el provecho, amar el daño;

creer que un cielo en un infierno cabe,

dar la vida y el alma a un desengaño;

esto es amor, quien lo probó lo sabe.

Lope de Vega

domingo, 5 de julho de 2009

sábado, 4 de julho de 2009



There are two means of refuge from the miseries of life: music and cats.

Albert Schweitze
r

quinta-feira, 2 de julho de 2009


Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Eugénio de Andrade

sábado, 27 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

As mulheres pálidas escreviam cicatrizes (...)


as mulheres pálidas escreviam cicatrizes
nos pulsos de gesso
tinham palavras uterinas por dentro dos regaços

trémulas como aves suicidas
silenciosas e agudas viúvas
afiavam lâminas de facas nos pescoços
na pele bordavam feridas
e maculavam os lençóis de linho,
os castos lençóis brancos de camilo pessanha.

um dia hão-de sentar-se nuas à sombra maternal de árvores.
e funéreas sinistras sepulcrais bailarinas
abrirão os braços riscados, soltarão os longos cabelos
para o voo inicial de todos os pássaros
- guardam precipícios no coração sob a plumagem
levam no peito punhais em vez de quilhas

un peu de coleur


The lovers, René Magritte, 1966

sábado, 20 de junho de 2009

verão.

Que saudades. Das quinzenas de Julho e das quinzenas de Agosto. Daqueles tempos em que chegava uma praia do Minho para ser feliz. Isso sim, era o Verão. As manhãs cheiravam a pão fresco e a leite com café. Será que hoje vai estar vento?, era a pergunta de sempre. Chegar àquela esplanada mesmo em frente à praia, descalçar os chinelos e descer as escadas de pedra, Não corras que ainda vais cair!, era o início de um dia com sabor a sal e a perna de pau ou magnum branco. Os castelos-de-areia, os túneis com tantas entradas, as formas e os "beijinhos", as raquetes, as corridas pelo areal e, lá para as dez e meia, depois de fazer a digestão, a corrida para o mar, aquele mar nortenho de água gelada e com muitos rochedos, e aí eu era capitão, pescador, nadador profissional e às vezes caçador de caranguejos. Não vás para tão longe que te afogas e anda embora que já estás aí há meia hora, Deixa-me ficar só mais um bocadinho. Quando os ossos começavam a gelar, lá deixava a água a muito custo, enrolava-me na toalha e estendia-me um bocadinho ao sol. E chegavam-me à mão a sandes de fiambre polvilhada com areia e o yoggi de morango. Mais corridas, mais bolas e desenhos, e era hora de ir almoçar. À tarde, depois do Rex, o cão polícia, e de uma sesta - ali a sesta sabia-me sempre bem -, a praia outra vez. Mais brincadeiras, mais mar, mais ondas, quanto mais enrugada ficasse a pele melhor. E o cheiro a protector solar. Ficávamos quase sempre até ao fim da tarde. E mais uma vez, voltar a casa, Limpa os pés que estás cheio de areia, uma viagem de carro de cinco minutos a ouvir "the man who sold the world", um panike de chocolate e dois ou três cacetinhos. À noite, depois do jantar, um passeiozinho por Viana ou umas voltas nos carrinhos de choque da freguesia. E era assim. E era bom.

E faltavam sempre muitos dias para vir embora.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

:D

É com muita alegria que vos apresento a L. num dia de calor! Fresca que nem uma...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

tomorrow i'll miss you



há dias em que só nos apetece que o tempo volte atrás ou que passe muito depressa.

sábado, 25 de abril de 2009

The man who said "I'd rather be lucky than good" saw deeply into life. People are afraid to face how great a part of life is dependent on luck. It's scary to think so much is out of one's control. There are moments in a match when the ball hits the top of the net, and for a split second, it can either go forward or fall back. With a little luck, it goes forward, and you win. Or maybe it doesn't, and you lose.

Matchpoint (2005)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Dorian Gray

Entre o berço de ouro e a lânguida sepultura
desabrocharam rosas de pétalas exangues
fluíram primaveras de humidade e pólen
cantaram cotovias ainda que baleadas
e as palavras se entorpeceram
de violência e amor.

agora pútridas as mãos
ossos amparam a memória
e a grave austeridade dos retratos
enquanto a casa jaze no seu silêncio
profundo.

só os espelhos tremem com os séculos
têm lágrimas de vidro nas polidas superfícies
agudas lâminas de aquosa dor

pela tua juventude arruinada

quinta-feira, 2 de abril de 2009

abril


[...]
Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

José Carlos Ary dos Santos, As portas que Abril abriu

terça-feira, 31 de março de 2009

as viúvas de Al Berto


adivinho medos sanguíneos nas bocas desdentadas de mulheres viúvas
monologando sobre a morte devoram bolos
de confecção caseira pouco açucarados

em casa umas das outras
lamentam-se de vez em quando suspiram
ao olhar as fotografias dos que partiram
e tudo esquecem

porque a morte tem aqui a vida de uma anciã
em cujo peito se entorpeceu
a devoção pelas doçarias pelos nomes dos mortos
pelo negro
e pelos vistosos crisântemos de novembro

é deste vazio absoluto (...)

é deste vazio absouto
que se fazem os cemitérios onde pernoitavas
e por este silêncio
de antigo claustro
que se matam as aves com violência
e os espelhos, aquosos, se quebram
se partem
se estilhaçam

ao reflectirem as ausências
mais presentes

segunda-feira, 30 de março de 2009


Got to get away from here
Think i know which hemisphere
Make sure i have all my papers
Laying out my summer clothes
Search for traps in vain like scratching
So my suitcase i can close
Fuggi regal fantasima


Rufus Wainwright, Barcelona

quinta-feira, 26 de março de 2009


A solidão eram os passos soltos
pelas cidades de sol e de sombra
As mãos
vazias
dentro dos bolsos como inúteis

E mal sabíamos nesses dias insalúbres
quantas infâncias
poemas
palavras
haviam ainda por
matar
ceifar

esquecer

quinta-feira, 19 de março de 2009

trago abertos os pulsos (...)


1
trago abertos os pulsos
pelas lâminas
porque quero alimentar as rosas
mortas.
injectá-las de pólen e efervescente
magma
e abrir ainda as suas coroas difíceis.
dos túmulos silenciosos onde se
deitam trazê-las rubras
como corpos delicados
arrancá-las
ceifando as suas raízes dos leitos
onde se esquecem:
pétala a pétala ascender-lhes o lume.

e depois, com o sangue derramado
desta angústia
apagar rostos nomes datas
gravados antes de mim na
lápide fria.

2
a criança disse:
ao nascer não sabia dos sepulcros
nem da gestação das covas
ou do duro ofício das ceifas.
ao longo da vida me têm ensinado
a morrer.
mas ao silencioso fogo dos poentes
deixo ao esquecimento este simulacro
de amargura e
lembro-me dos pássaros a
eternidade.
calada, desenho asas na pele.
não raras vezes ressuscito
rosas

segunda-feira, 2 de março de 2009


Como doem as árvores
Quando vem a Primavera

E os amigos que ainda estão de pé


Daniel Faria

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

...:P

ultimato: Comentem o blogue Sílabas de Lume!!!!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

domingo, 25 de janeiro de 2009

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

poesia para variar

UM AMIGO

"Num daqueles dias de Outono, em que nos queima a vermelha labareda das folhas, um amigo pedia que lhe contasse uma história. «Salva-me a vida, conta-me uma história.» E eu recordei aquela mulher das Mil e uma Noites, que encadeava, com doçura e desespero, uma história na outra, pois só a história infinita nos permite escapar à maldição da morte.
Um amigo é uma história que nos salva."


Mário Rui de Oliveira, O Vento da Noite

e eis que humildemente anuncio o meu delicado intelecto


«A arte não é para mim só um modo de estar no mundo, mas de estar para além dele, quase um modo de achar em mim um rastro dos deuses mortos».

Vergílio Ferreira, Apelo da Noite

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

P.S. - A Lucibelya é preguiçosa e não escreve nada no blog. Vergonhoso.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009


Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade