terça-feira, 31 de março de 2009

as viúvas de Al Berto


adivinho medos sanguíneos nas bocas desdentadas de mulheres viúvas
monologando sobre a morte devoram bolos
de confecção caseira pouco açucarados

em casa umas das outras
lamentam-se de vez em quando suspiram
ao olhar as fotografias dos que partiram
e tudo esquecem

porque a morte tem aqui a vida de uma anciã
em cujo peito se entorpeceu
a devoção pelas doçarias pelos nomes dos mortos
pelo negro
e pelos vistosos crisântemos de novembro

é deste vazio absoluto (...)

é deste vazio absouto
que se fazem os cemitérios onde pernoitavas
e por este silêncio
de antigo claustro
que se matam as aves com violência
e os espelhos, aquosos, se quebram
se partem
se estilhaçam

ao reflectirem as ausências
mais presentes

segunda-feira, 30 de março de 2009


Got to get away from here
Think i know which hemisphere
Make sure i have all my papers
Laying out my summer clothes
Search for traps in vain like scratching
So my suitcase i can close
Fuggi regal fantasima


Rufus Wainwright, Barcelona

quinta-feira, 26 de março de 2009


A solidão eram os passos soltos
pelas cidades de sol e de sombra
As mãos
vazias
dentro dos bolsos como inúteis

E mal sabíamos nesses dias insalúbres
quantas infâncias
poemas
palavras
haviam ainda por
matar
ceifar

esquecer

quinta-feira, 19 de março de 2009

trago abertos os pulsos (...)


1
trago abertos os pulsos
pelas lâminas
porque quero alimentar as rosas
mortas.
injectá-las de pólen e efervescente
magma
e abrir ainda as suas coroas difíceis.
dos túmulos silenciosos onde se
deitam trazê-las rubras
como corpos delicados
arrancá-las
ceifando as suas raízes dos leitos
onde se esquecem:
pétala a pétala ascender-lhes o lume.

e depois, com o sangue derramado
desta angústia
apagar rostos nomes datas
gravados antes de mim na
lápide fria.

2
a criança disse:
ao nascer não sabia dos sepulcros
nem da gestação das covas
ou do duro ofício das ceifas.
ao longo da vida me têm ensinado
a morrer.
mas ao silencioso fogo dos poentes
deixo ao esquecimento este simulacro
de amargura e
lembro-me dos pássaros a
eternidade.
calada, desenho asas na pele.
não raras vezes ressuscito
rosas

segunda-feira, 2 de março de 2009


Como doem as árvores
Quando vem a Primavera

E os amigos que ainda estão de pé


Daniel Faria