sábado, 27 de junho de 2009

segunda-feira, 22 de junho de 2009

As mulheres pálidas escreviam cicatrizes (...)


as mulheres pálidas escreviam cicatrizes
nos pulsos de gesso
tinham palavras uterinas por dentro dos regaços

trémulas como aves suicidas
silenciosas e agudas viúvas
afiavam lâminas de facas nos pescoços
na pele bordavam feridas
e maculavam os lençóis de linho,
os castos lençóis brancos de camilo pessanha.

um dia hão-de sentar-se nuas à sombra maternal de árvores.
e funéreas sinistras sepulcrais bailarinas
abrirão os braços riscados, soltarão os longos cabelos
para o voo inicial de todos os pássaros
- guardam precipícios no coração sob a plumagem
levam no peito punhais em vez de quilhas

un peu de coleur


The lovers, René Magritte, 1966

sábado, 20 de junho de 2009

verão.

Que saudades. Das quinzenas de Julho e das quinzenas de Agosto. Daqueles tempos em que chegava uma praia do Minho para ser feliz. Isso sim, era o Verão. As manhãs cheiravam a pão fresco e a leite com café. Será que hoje vai estar vento?, era a pergunta de sempre. Chegar àquela esplanada mesmo em frente à praia, descalçar os chinelos e descer as escadas de pedra, Não corras que ainda vais cair!, era o início de um dia com sabor a sal e a perna de pau ou magnum branco. Os castelos-de-areia, os túneis com tantas entradas, as formas e os "beijinhos", as raquetes, as corridas pelo areal e, lá para as dez e meia, depois de fazer a digestão, a corrida para o mar, aquele mar nortenho de água gelada e com muitos rochedos, e aí eu era capitão, pescador, nadador profissional e às vezes caçador de caranguejos. Não vás para tão longe que te afogas e anda embora que já estás aí há meia hora, Deixa-me ficar só mais um bocadinho. Quando os ossos começavam a gelar, lá deixava a água a muito custo, enrolava-me na toalha e estendia-me um bocadinho ao sol. E chegavam-me à mão a sandes de fiambre polvilhada com areia e o yoggi de morango. Mais corridas, mais bolas e desenhos, e era hora de ir almoçar. À tarde, depois do Rex, o cão polícia, e de uma sesta - ali a sesta sabia-me sempre bem -, a praia outra vez. Mais brincadeiras, mais mar, mais ondas, quanto mais enrugada ficasse a pele melhor. E o cheiro a protector solar. Ficávamos quase sempre até ao fim da tarde. E mais uma vez, voltar a casa, Limpa os pés que estás cheio de areia, uma viagem de carro de cinco minutos a ouvir "the man who sold the world", um panike de chocolate e dois ou três cacetinhos. À noite, depois do jantar, um passeiozinho por Viana ou umas voltas nos carrinhos de choque da freguesia. E era assim. E era bom.

E faltavam sempre muitos dias para vir embora.

segunda-feira, 8 de junho de 2009