segunda-feira, 22 de junho de 2009

As mulheres pálidas escreviam cicatrizes (...)


as mulheres pálidas escreviam cicatrizes
nos pulsos de gesso
tinham palavras uterinas por dentro dos regaços

trémulas como aves suicidas
silenciosas e agudas viúvas
afiavam lâminas de facas nos pescoços
na pele bordavam feridas
e maculavam os lençóis de linho,
os castos lençóis brancos de camilo pessanha.

um dia hão-de sentar-se nuas à sombra maternal de árvores.
e funéreas sinistras sepulcrais bailarinas
abrirão os braços riscados, soltarão os longos cabelos
para o voo inicial de todos os pássaros
- guardam precipícios no coração sob a plumagem
levam no peito punhais em vez de quilhas

3 comentários:

Karenina disse...

Saudades das aulas de Literatura Portuguesa - com o Sr. Pessanha e V. Exa. ;)
Gostei especialmente deste post. A imagem está muito bem conseguida para o poema, num sentido estético muito apurado. A parte final ("guardam precipícios no coração sob a plumagem/ levam no peito punhais em vez de quilhas") sublime. Parabéns pelo teu trabalho e pelo que tens conseguido com ele. Ainda não tinha tido a oportunidade de te gratular.
E por falar em oportunidade, para quando um chazinho? :)

Luiza Nunes disse...

Sra. Karenina, obrigado pelo comment, também sinto saudades das aulas literárias do secundário. :) chazinho inglês quando quiseres, só mandar sms.
:p

Luiza Nunes disse...

p.s. também gosto da imagem, partilho contigo a paixão pelas bailarinices...:)