quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"E subitamente, o amor (...)"

Gustav Klimt, O Beijo



"E subitamente, o amor. Eis que o teu rosto me enternece. Que o teu corpo nu é-me familiar como um espelho e a tua carne, para ser mordida, para ser segura entre os meus dedos longilíneos se me anuncia e entorpece: das omoplatas crescem asas inseguras, voam os cabelos sobre todos os leitos, sobre as mesas, sobre o chão molhado das casas sombrias. Nos lábios, agora, arrebentam rosas: palavras etéreas que desabrocham imberbes e nada dizem: só os olhares falam e o Medo. Só os olhares se humedecem vítreos, orvalhados. Líquidos como líquido é o teu rosto no meu ventre. Líquido como todas as sementes no meu útero.

Eis que as mãos se encontram e acolhem. Ao sol de uma manhã as mãos se apertam ainda despidas, como pássaros que têm sono. Nas ruas, ao anoitecer, numa cidade longínqua, as mãos se entrelaçam sempre trémulas, medrosas no rubor das águas, no sangue fervente da paisagem. E no peito, timidamente, a eternidade."